Homilia Jubileu dos Doentes

11-02-2025
Foto de Duarte Gomes
Foto de Duarte Gomes

JUBILEU DOS DOENTES

Casa de Saúde Câmara Pestana, 11 de fevereiro de 2025

Leituras (N. S. Lourdes):
Is 66,10-14
Jdt 13, l8b.c.d.e.19
Ap 21,1-7
Jo 2, 1-11

"Anjos de esperança, mensageiros de Deus"

1. A esperança que somos chamados a viver na nossa vida cristã (e, de num modo particular, neste Jubileu de 2025) é a virtude do dinamismo. Péguy diz que, mesmo sendo a menor das três irmãs (fé, esperança e caridade), a esperança é aquela que desinquieta e faz mover as duas outras virtudes.

A esperança é a virtude que nos convida a olhar o presente à luz da realidade definitiva que Deus tem preparado para cada um e para todos: a Sua contemplação para sempre, a partilha da Sua Vida Eterna.

Olhamos para o nosso mundo, e surpreendemo-nos com as suas belezas e maravilhas: percebemo-lo criado por Deus e sua testemunha. Olhamos para o nosso mundo e somos convidados a perceber-nos sustentados por uma realidade maior que nos ama, em quem podemos confiar e a quem podemos entregar toda a nossa existência: olhamos para o nosso mundo e somos convidados à fé.

Olhamos para o nosso mundo, e somos convidados ao amor, seja porque nos damos conta do sofrimento e das necessidades de tantos nossos irmãos, seja porque, em cada um de nós, está presente a necessidade da partilha, da solidariedade.

Mas olhando para este nosso mundo; olhando para a nossa condição de doentes e de cuidadores de doentes; olhando para a nossa fragilidade e para a fragilidade do mundo que nos envolve, somos tentados a perder a esperança — a baixar os braços, a desistir, a permanecer paralisados, vencidos pela incapacidade de resolver todas as questões que ameaçam a nossa condição.

E, no entanto, Deus e a sua Palavra vêm até nós como poderoso convite a não baixar os braços. Era assim o Profeta, que se dirigia ao povo de Israel no exílio: "Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados" (Is 66,13). Era assim o vidente do Apocalipse que, a partir da realidade final de Deus (o Ómega da história), dizia aos cristãos perseguidos do seu tempo: "Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos, e nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito; nunca mais haverá dor porque o mundo antigo desapareceu" (Ap 21,4). Era assim a Virgem Maria que convidava os serventes: "Fazei tudo o que Ele vos disser".

Poderíamos pensar que a esperança consiste num mero mecanismo psicológico que recusa aceitar a realidade de este nosso mundo não ter remédio. Poderíamos pensar que o melhor seria aceitar simplesmente a realidade dura que vivemos e aprender a vivê-la no meio das suas dificuldades. No fundo: que seria melhor deixarmo-nos derrotar pela triste realidade que nos cerca. Ou, então, poderíamos pensar que um sonho irrealizável não custa e nos faz viver bem, ao menos enquanto dura. Mas a esperança não seria virtude se assim fosse: seria, apenas, uma fuga à dura realidade — um optimismo, quando muito.

2. Contudo, a notícia da ressurreição do Senhor chega até nós e para a nossa vida. O que julgávamos ser a fatalidade de um fim, de um muro intransponível que nos limitava radicalmente — a fatalidade da morte — é-nos dito que foi, finalmente, vencida e derrubada por um de nós e para nós. O muro que nos separava de Deus viu-se, de repente, com uma brecha. O obstáculo que nos impedia de ver mais longe foi derrubado e ultrapassado.

Claro que não bastam as nossas forças, as nossas capacidades, a nossa sabedoria. Necessitamos da Graça de Deus. Mas podemos, doravante, esperar num definitivo e feliz futuro com Deus: colocando nele o nosso olhar, o nosso coração, toda a nossa existência se transforma dum modo radical. Mesmo os momentos de sofrimento e de fragilidade — fragilidade nossa e de quantos estão à nossa volta e nos ajudam a vivê-los.

Na sua mensagem para esta celebração, o papa Francisco convida-nos, ousadamente, a sermos "Anjos de esperança", anunciadores e presença deste novo modo de viver.

O Papa começa por nos convidar à humildade. A fragilidade da nossa doença mostra-nos bem que não conseguimos tudo sozinhos. "Precisamos de um apoio maior do que nós: precisamos da ajuda de Deus e da sua graça". É esta consciência de quem necessita de Deus que nos faz também descobrir a existência de uma "rocha firme", bem ao nosso lado, onde nos podemos ancorar durante as tempestades da nossa vida. É o encontro com Deus, "que nos torna mais fortes porque mais conscientes de não estarmos sós. Na doença, procura e vive o encontro com Deus!"

Ao vivermos desse modo, continua o Papa Francisco, damo-nos conta do grande dom de Deus que é a esperança: "Em nenhuma outra ocasião como no sofrimento, diz o Papa, nos damos conta de que toda a esperança vem do Senhor e que, sendo assim, é antes de mais um dom a acolher e a cultivar".

E, deste modo, podemos partilhar. "Quantas vezes se aprende a esperar à cabeceira de um doente! Quantas vezes se aprende a acreditar ao lado de quem sofre! Quantas vezes descobrimos o amor inclinando-nos sobre quem tem necessidades! Ou seja — conclui o Papa — apercebemo-nos de que todos juntos somos 'anjos' de esperança, mensageiros de Deus uns para os outros: doentes, médicos, enfermeiros, familiares, amigos, sacerdotes, religiosos e religiosas".

"Anjos de esperança; mensageiros de Deus": eis o grande convite que nos é feito nesta celebração. Peçamos ao Senhor a graça de o sermos. Sinais da Vida feliz e eterna que o Senhor Jesus nos ganhou e que se encontra bem para além de qualquer outra felicidade. É ela que vale a pena pedir, procurar e acolher, qualquer que seja a circunstância da nossa vida.


+ Nuno, Bispo do Funchal