PLANO PASTORAL DIOCESANO 2021/2022

25-09-2021

DIOCESE DO FUNCHAL

Uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão

("Maria pôs-se a caminho")

PROGRAMA PASTORAL 2021-2022

Calendário diocesano

A Igreja é o povo dos baptizados que caminha, unido pelo Espírito Santo, em direção ao encontro pleno com o Pai. É isto que significa a palavra "sínodo" (caminho feito em conjunto). É isto que vivemos em cada Eucaristia. É este o modo de viver e de agir da Igreja, povo de Deus. Tal exige compromisso e participação por parte de cada um e de todos os baptizados.

O Papa Francisco convidou todas as dioceses do mundo a, no próximo ano pastoral de 2021-2022, participarem mais activamente na preparação e celebração do próximo Sínodo dos Bispos a ter lugar em Roma, em Outubro de 2023, com o tema: "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão".

Assim, depois de, no dia 10 de Outubro, o Papa abrir em Roma este caminho sinodal, será a vez de cada bispo, dar início aos trabalhos diocesanos de reflexão sinodal no domingo seguinte (17 de Outubro). Por isso, o convite do Santo Padre passará, necessariamente, a integrar o percurso que tínhamos empreendido como diocese para aprofundar as realidades centrais da nossa vida de fé, a partir dos três sacramentos da iniciação cristã (baptismo, eucaristia e crisma).

São Paulo não hesitava em afirmar: "Fomos todos baptizados num só Espírito, para ser um só corpo". E, logo a seguir: "Se um membro sofre, todos os membros partilham o seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros partilham da sua alegria. Ora vós sois o corpo de Cristo, e sois os seus membros" (1Cor 12,13.26-27).

Isto significa que pertencemos à Igreja não por causa de uma coincidência de opiniões ("eu acho que a doutrina está certa"), nem porque é mais fácil ou mais prático para a nossa vida ("reunidos somos mais fortes"), e muito menos por uma tradição herdada, mas porque cada um de nós é, pelo baptismo, membro do Corpo de Cristo.

É essa realidade que dá início à comunhão que vivemos: é Cristo que, em nós, é fonte de comunhão. De facto, antes de ser uma instituição como tantas outras da nossa sociedade, a Igreja é o Corpo místico de Cristo, e nisso é radicalmente diferente de todas as instituições que conhecemos.

Não somos nós quem faz a Igreja. A Igreja, reunida por Cristo no Espírito Santo, está espalhada pelo mundo inteiro, como mostramos em cada Eucaristia ao rezarmos em comunhão com o Papa (garante da comunhão universal) e com o Bispo diocesano (garante da comunhão diocesana).

Acerca da Igreja, o Concílio Vaticano II fez uma comparação importante: assim como, em Jesus, o Verbo se fez carne para poder ser escutado e visto, e para poder salvar tudo quanto era humano, assim também a Igreja se torna presente e visível nas diferentes sociedades humanas, de uma forma organizada e institucional (LG 8). Mas, diz ainda o Concílio noutro passo, "de modo que o que nela é humano se deve subordinar ao divino, o visível ao invisível, a acção à contemplação, o presente à cidade futura que buscamos" (SC 2).

Assim, antes de mais e primeiramente, devemos olhar a Igreja como o Corpo de Cristo. Isto deve ser entendido em algumas dimensões essenciais (cf. LG 7):

  1. Os primeiros cristãos falavam da Igreja como "o mistério da lua". Quer dizer: a Igreja não tem luz própria; a luz que ela irradia é a luz de Jesus Cristo. É na Igreja que "a vida de Cristo se difunde nos que crêem, unidos a Cristo de modo misterioso e real, por meio dos sacramentos" (LG 7). Essa é a grande riqueza da Igreja, que ela não pode deixar de distribuir pelo mundo e pela história: a vida de Cristo. Cristo está hoje no mundo através dos cristãos. Os cristãos são o modo como Cristo pode hoje encontrar os homens e mulheres que vivem neste nosso tempo. A Igreja existe para mostrar Cristo, quer dizer: para evangelizar (cf. EN 14).

  2. E, no entanto, como afirma Santo Agostinho, a Igreja é também "o Cristo total" (cf. Col 1,24). Nós, que ainda peregrinamos na terra e na história, fazemos parte do mesmo e único Corpo de Cristo, unidos aos santos que já atingiram a meta do seu caminhar (a Igreja gloriosa) e àqueles que, apesar de terem já partido deste mundo, ainda se purificam, caminhando em direcção a uma identificação perfeita com Cristo (purgatório). Ao sermos fiéis à fé dos Apóstolos, temos também nós a certeza de integrar a "multidão imensa, que ninguém pode contar, de todas as nações, tribos povos e línguas", e que proclamam: "A salvação pertence ao nosso Deus" (Ap 7,9-10).

  3. O objectivo do nosso caminhar na terra (da nossa peregrinação) é que cada um se conforme cada vez mais com Cristo (se torne mais semelhante a Ele, adquira a Sua "forma"), até que Ele se forme perfeitamente em cada um (cf. Gal 4,19).

  4. Ao fazer parte do único Corpo de Cristo, passamos a ser membros uns dos outros (membros do mesmo Corpo que tem na Virgem Maria e nos santos os seus membros mais ilustres), pelo que passamos também todos a ser responsáveis uns pelos outros.

  5. Tal como no corpo cada membro desempenha uma função, também na Igreja, corpo de Cristo, o Espírito Santo "distribui os seus vários dons segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios, para utilidade da Igreja" (LG 7; cf. 1Cor 12,12).

  6. Isto exige de todos os batizados a disponibilidade para, segundo a sua condição, escutar o Espírito Santo e os seus apelos, de forma a corresponder generosamente a estes no serviço à comunidade e a quantos necessitam.

  7. A sinodalidade a que o Papa Francisco nos chama, expressão do "caminho comum" que percorremos, realiza-se na escuta da Palavra, na celebração da Eucaristia, na fraternidade da comunhão, na co-responsabilidade e participação de todos na vida e missão da Igreja.

Propõem-se, nesta linha, algumas acções pastorais:

  1. A nível das paróquias:

  • Criar ou estimular as estruturas de participação laical na vida das comunidades cristãs, em particular os Conselhos Económicos e os Conselhos Pastorais paroquiais;

  • Reanimar a participação dos leigos nos diversos serviços paroquiais;

  • Celebrar o dia da Dedicação da igreja paroquial e recolher os elementos conhecidos da sua história/construção.

  1. A nível dos arciprestados:

  • Fomentar o trabalho pastoral em conjunto entre as várias paróquias e entre os sacerdotes;

  • Procurar organizar uma Jornada de Formação Laical.

  1. A nível diocesano:

  • Divulgar a figura do Beato Carlos de Áustria enquanto exemplo de leigo que viveu em família a vocação à santidade;

  • Promover um curso sobre a sinodalidade na Escola Teológica;

  • Criar uma comissão diocesana de acompanhamento dos trabalhos do Sínodo dos Bispos de 2023, que promova os trabalhos que a Santa Sé pedir à nossa Diocese e apresente os resultados, e anime a dinâmica dos trabalhos sinodais;

  • Favorecer a acção e divulgação dos diferentes movimentos laicais de espiritualidade cristã;

  • Fazer a recolha da memória da construção das diferentes igrejas da diocese, em particular das que foram construídas após o Decreto de 1961.

A Virgem Maria é o membro mais ilustre deste Corpo que é a Igreja. Mas é também a sua prefiguração. Quer dizer: nela podemos já contemplar o destino, a meta realizada de cada um e de todos.

Quando lemos no evangelho de S. Lucas que "Maria se pôs rapidamente a caminho" (Lc 1,39) ao encontro de Isabel, para lhe anunciar o Evangelho e partilhar a alegria da maternidade, não podemos deixar de ver nestas palavras a realidade da Igreja na história, ao longo de todos os séculos. Portanto, também nos vemos ali retratados: com a urgência do amor, os cristãos da Diocese do Funchal são chamados a deitar pés ao caminho e a partilhar com a humanidade a Boa Notícia de que são portadores, ao mesmo tempo que oferecem um novo horizonte à vida humana, procurando tornar presente na história o Céu que é Cristo, e no qual os santos gozam da contemplação do rosto do Pai.

Funchal, 8 de setembro de 2021

+ Nuno, Bispo do Funchal